Saúde e Qualidade de Vida da Mulher Trabalhadora foi o tema do 2º Encontro da Mulher do Sitracom BG. O evento realizado na sexta-feira (8), reuniu pelo menos 200 pessoas no auditório do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção e do Mobiliário de Bento Gonçalves (Sitracom BG), com o objetivo de analisar e discutir temas de extrema importância para o dia a dia da mulher.
Hoje, pelo menos 50% da maior categoria de trabalhadores de Bento Gonçalves é formada pela mão de obra feminina. Em vista disso o Sitracom BG, através de sua direção e associados, sentiu a necessidade de promover ações que potencializem informações para as mulheres trabalhadoras. “Informações que sejam revertidas em mais condições de cidadania para nossas companheiras trabalhadoras são sempre bem-vindas. Em encontros como este, elas passam a ter um efeito multiplicador, pois o conhecimento adquirido é repassado para suas filhas, suas mães, familiares e amigos. Esta é a parte importante”, analisa o diretor de Educação do Sitracom BG, Ivo Vailatti.
O presidente da entidade, Itajiba Soares Lopes, ficou satisfeito com o resultado do encontro. “Tivemos a grata satisfação de ter um auditório lotado e não só por mulheres, mas também pelos familiares e crianças. Isto demonstra a importância do evento e de seu objetivo. Cidadania é um direito de todos e a igualdade de direitos é para todos os trabalhadores, sejam eles homens ou mulheres”, concluiu.
A luta contra o assédio moral
O tema “Saúde e Qualidade de Vida da Mulher Trabalhadora” foi abordado em três palestras distintas. Uma das palestrantes mais esperadas da noite foi a diretora da Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias (CNTI), a educadora Sônia Maria Zerino da Silva, que abordou o tema “Assédio Moral”.
“Temos que lutar contra isso, não podemos mais admitir que o trabalhador sofra humilhações. Os sindicatos devem estar atentos para impedir situações que favoreçam a degradação dos trabalhadores”, adverte a educadora. Ela alerta para os vários tipos de questões que podem apontar para o assédio moral. Rigidez excessiva e mudanças no horário de trabalho sem aviso são alguns exemplos de abusos contra o trabalhador. Mas existem outros que são bem comuns e também atingem muitas mulheres.
“Temos casos de patrões ou pessoas em cargos de chefia que impedem que o trabalhador vá ao banheiro, beba água ou que o induzem a jornadas excessivas. Ainda existe muito empregador que troca o horário de funcionárias grávidas ou que tenham filhos induzindo a um pedido de demissão. Essas coisas não podem continuar acontecendo”, observa Sônia.
O resultado desse assédio moral é terrível para o trabalhador e sua família. Homens e mulheres tendem a levar a pressão sofrida no local do trabalho para suas casas e aí então surgem doenças das mais variadas ordens, como as psicossomáticas, as doenças do trabalho, abalo na confiança, redução da capacidade de relacionamento e muito mais. Além disso, as humilhações acabam com a auto-estima e a família passa a ser a maior prejudicada. “Os resultados negativos não param por aí. Essa situação gera doenças como o alcoolismo e a pessoa fica tão desorientada que acaba se tornando mais vulnerável aos acidentes de trabalho”, concluiu a diretora da CNTI.
Mulher na Família
A antropóloga Tasia Maria Ferreira abordou “O Papel da Mulher na Família”, tema que traz à tona algumas questões do dia a dia da mulher e sua evolução. Ela lembra que houve um tempo em que a mulher era dona de casa, lavava, passava, cuidava da limpeza, dos filhos e do marido, inclusive o acompanhava até a porta cada vez que ele saia para o trabalho. “Mas agora os tempos mudaram e o processo familiar precisa de adaptações para se encaixar aos novos tempos. A realidade mudou e as mulheres avançaram, cuidam de suas famílias e de seus empregos”, observa a antropóloga. Para Tasia, acabou a época da mulher “frágil e coitadinha”. “Ela agora participa das decisões mais importantes, tanto de suas famílias, como nas do rumo de uma nação. Já foi o tempo em que sua presença chegava a ser considerada um insulto em certas reuniões sociais”, analisa.
Saúde no Trabalho
“Saúde no Trabalho” foi o tema da palestra do médico do trabalho, Rogério Dornelles. Segundo ele, “saúde não é questão apenas de se ter doenças. Saúde é um processo. Incluiu condições dignas de trabalho e de vida. Saúde não vem pronta, ela precisa ser conquistada”, analisa o médico. Segundos dados apontados, o Brasil registra hoje um média de 700 mil acidentes de trabalho. “E isso é somente 30% da mão de obra do País. O restante não tem carteira assinada e, portanto, não se computam os números. Mas posso assegurar que podemos multiplicar por três esta base. Como praticamente metade da mão de obra brasileira é composta por mulheres, conclui-se que a saúde no trabalho precisa melhorar muito.
“Precisamos dar atenção à saúde de todos, mas a mulher precisa de uma atenção especial, porque ela sofre com a discriminação, ganha menos que os homens, mesmo trabalhando em casa e fora. Elas são mal vistas pelos patrões quando engravidam e são sugadas no trabalho. Temos que mudar este quadro”, concluiu.