Os trabalhadores têm muito a comemorar no 1º de maio, data da celebração do Dia Internacional do Trabalho. Porém, a comemoração deve ter um sentido diferente daquele da harmonização com o sistema habitual, quando simplesmente se faz um feriado e as pessoas param com suas atividades.
Esta comemoração, na visão do educador popular Emílio Genari que palestrou no Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção e do Mobiliário (Sitracom BG), às vésperas da data máxima dos trabalhadores, é justa pelo simples fato dele estar participando de um processo de luta e de transformação, buscando equilíbrio entre o trabalho e o capital. Desta maneira há muito que comemorar, analisa o professor.
Ele destaca que a data foi criada depois de uma série de eventos em que trabalhadores chegaram a ser mortos devido aos excessos praticados pelos patrões e a subserviências de quem precisava trabalhar para manter suas famílias. É por isso que o 1º de maio não é uma data de harmonização, mas sim de parada para repensar e refletir sobre as formas de se opor a um sistema viciado em sugar dos cidadãos que labutam diariamente, toda a sua energia em prol de um capitalismo predatório, observa.
Genari é italiano de nacionalidade e brasileiro por opção. Com fala mansa e tom baixo, faz análises muito claras e por vezes beirando ao óbvio. Daí resulta o seu poder de comunicar. Indo diretamente ao assunto, esmiúça detalhes que invariavelmente passam despercebidos, mas que quando chegam aos ouvidos fazem o interlocutor pensar de forma mais clara e racional. Desta forma ele analisa a situação do trabalhador brasileiro.
O País tem a sexta economia do mundo, mas está 51º lugar no ranking de salários entre 72 nações. Nem vamos falar aqui em Índice de Desenvolvimento Humano, pois teríamos uma situação trágica, comentou. Ele lembra que há uma diferença abismal entre as estatísticas apresentadas e a realidade vivida pelo trabalhador brasileiro. São fatores que não podem ser deixados de lado porque interferem diretamente no dia a dia de todos, observa.
Para exemplificar ele destaca o número de famílias que passou a viver em favelas, conforme dados do próprio Instituto de Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE). No ano 2000, 3,5% de população brasileira morava em favelas. Em 2010 este percentual pulou para 5,6%. Estes números são do próprio IBGE que é o órgão oficial que analisa e divulga os números do País. Então alguma coisa está errada nesta história de que os trabalhadores estão em uma situação cada vez melhor. Na verdade há uma maquiagem no quadro. A realidade é outra e é justamente contra isso que devemos nos mobilizar. Os trabalhadores precisam estar atentos para lutar pelas melhorias necessárias e não se harmonizar com as precariedades impostas pelo capital.
Gennari destaca também o que considera como uma das mais importantes necessidades dos trabalhadores. Para o professor, é imprescindível que haja equilíbrio entre o número de horas dedicadas a labuta e as dedicadas à vida em família. Temos que ter oito haras para o trabalho, oito para o repouso e outras oito para a educação e o lazer. Todos precisam disso para usufruir de uma vida digna, concluiu.
O presidente do Sitracom BG, Itajiba Soares Lopes, destacou a importância do tema abordado na palestra do professor Genari. Celebrar o Dia Internacional do Trabalho sem compactuar com a situação é a visão que o sindicato quer compartilhar com os trabalhadores. Buscamos a cada dia fomentar a mobilização para a luta por melhores condições de cidadania e temos certeza de que focados nisso as conquistas serão ainda mais valorizadas, observou o presidente.
Além da participação dos diretores do Sitracom BG, a palestra contou também com a presença de representantes mo movimento sindical de outras categorias de Bento Gonçalves.